Em termos estritamente intelectuais, eu sempre fui uma piranha.
Nunca consegui ser monogâmico, quando se tratava de estudar. Quando começava a penetrar a Matemática, conhecer as intimidades dela, tentar algo sério e pacto, logo fracassava! Pulava a cerca e ia me engraçar com o Português e com as primas mais jovens dele, - a História, a Geografia, a Sociologia - sempre dispostas a alguma sacanagem intelectual. Tinha também alguns casos ocasionais com Química e Física. Mas, confesso, eram aventuras breves: achava-as diretas demais, muito mente-fechadas, sem espaço para nuances ou brincadeiras mais ousadas.
Essa vida promíscua era de muita satisfação e prazer, mas me alertaram que nossa sociedade não vê com bons olhos quem atira para todo os lados: tem que escolher uma só, no vestibular e, então, seguir carreira até o final da vida. Difícil. De todas que eu toquei até o Ensino Médio, a que eu tive o maior número de encontros foi a Filosofia. Desconfio que porque, como eu, ela era bem libertina, tendo dentro de si sempre um monte de assuntos diferentes.
Engatamos um namoro sério, fechado, com pretensão de casar. Infelizmente, acho que cedi aos burburinhos dos parentes que, para estabilidade financeira, não dá para ir se embasar em uma formação generalista assim. Desmanchei tudo no primeiro semestre da faculdade e comecei outro relacionamento com Economia. Sim, sim, você está certo: em grande parte, eu fui interesseiro; estava nessa, principalmente, pelo dinheiro, porque, até ali, nunca nem tinha olhado ou sequer dado um beijisco em Economia. Muito careta, conservadora, fechada em si mesma.
Ou assim parecia no começo. Com o tempo, descobri que ela tinha suas aventuras escondidas, e até fechava os olhos para minhas escapadas, desde que eu voltasse para casa com a gravata e a calculadora no lugar. Ela exige que use Matemática e Estatística, mas posso o fazer para responder questões históricas, sociológicas e geográficas, minhas velhas amigas da noite. Funciona bem, no final das contas. A gente até resolveu resumir nosso estilo de relacionamento com o título de "Historiador Econômico", o mais canalha e cafajeste dos economistas.